quinta-feira, 21 de abril de 2011

Para Entender as Mídias Sociais: Saiba quem são os autores envolvidos no projeto

Para Entender as Mídias Sociais: Saiba quem são os autores envolvidos no projeto: "A maioria deles foi abordada no final de fevereiro e topou, com uma dedicação cada vez mais rara, o desafio de escrever sobre temas tão comp..."

domingo, 25 de abril de 2010

Fire Map



O que eu acho mais legal nesta representação da paixão - sim, é o fogo da paixão, é a sequência do que se encobre e do que se descobre.

domingo, 18 de abril de 2010

Quando só os olhos falam

Benjamín e Irene: amor de uma vida, sem um único beijo. Só os olhos falavam.

Acabei de assistir o estupendo O Segredo dos seus Olhos (El Secreto de sus ojos, 2009), filme argentino ganhador do Oscar de melhor filme estrangeiro. Não vou fazer aqui uma crítica ao filme. Pra isso tem o link.
Digo apenas que foi mais que merecedor do prêmio e que o cinema brasileiro continua sendo uma vergonha diante do talento dos vizinhos.
Eu quero falar mesmo é da importância do olhar. A história trata disso, dos olhares que envolvem todo o drama do amor que não se verbaliza e do suspense que não se revela.
Os olhos traem toda e qualquer atitude humana e tem canal direto com a alma. Desconheço alguém absolutamente perfeito na arte de enganar com os olhos. Todos os gestos, todos os trejeitos, todo o verbo podem contar mentiras a si próprio e aos outros. Mas os olhos, nunca.
Eles derrubam a voz, desdenham a consciência, subvertem os atos. Por isso é tão complicado olhar "dentro" dos olhos de alguém. Temos medo de sermos descobertos em segredos que nem conhecíamos em nós mesmos. Ou de descobrirmos segredos alheios. 
Saber olhar é um exercício do viver. Porque há sentido no modo como se fixa ou se move os olhos e uma expectativa da forma como se é interpretado. Se há correspondência, negação, crítica, aceitação, cumplicidade. No fundo, tudo isto importa.
Tenho três blogs e, em cada um deles, tenho olhares distintos. Estes olhos da foto aí em cima são os meus. Olhos sobre tudo, abertos, mas de lado. Olhar de observação, antes do discurso. Em outro blog, mais pessoal ainda, o olhar é para baixo, em direção ao chão.  Porque lá falo de coisas que ferem, que nem sempre quero ver ou quero que me vejam quando as sinto. E no terceiro blog a foto do perfil mostra um olhar descolado, também pro lado, menos íntimo, alegre. Não pensei exatamente com esta lógica quando defini as fotos. Mas certamente eu quis assim. 
O filme disse muito mais do que isto, certamente. Mas isto foi o que vi, pra onde olhei. E cinema é assim mesmo: fica o que mais nos impressiona.

terça-feira, 6 de abril de 2010

O quanto se pode fazer em 10 anos? Um livro.

Dez anos. O tempo da reedição em linotipia de um Pictorial Websiter. Aquele dicionário cheio de figuras onde nossos bisavós e avós aprendiam mais sobre tudo. O vídeo mostra como Johnny Carrera reproduziu um destes exemplares, passo a passo, usando os recursos da antiga tecnologia. A edição era de 1898.
Ele encontrou o livro por acaso, em 1995, embaixo da poltrona do avô. O tratamento dos detalhes, o cuidado, o projeto, da impressão à costura e capa feitos à mão, tudo é primoroso.
Carrera foi fazendo o livro em seu tempo livre. O resultado é absolutamente encantador.
Adoro este vídeo porque há um exercício da observação da paciência e da minúcia. Há beleza. Do muito que passa aos nossos olhos durante o dia, pouco vemos. É interessante reduzir o ritmo do olhar, como se assiste a um filme francês. Esse é o efeito.
Claro, adoraria ter uma edição desta. Mas tenho por aqui um dicionário tradicional, herança da minha mãe que guardamos como jóia da família. Ainda em ótimo estado. Todas as páginas no lugar, amarradinhas, capa de couro perfeita, páginas amareladas, mas sem uma dobra.
Ainda bem, porque ao contrário do Carrera não entendo nada de processos gráficos e ficaria tristíssima se o perdesse.
Ah, sim. A dica deste vídeo veio pelo Twitter, do não-sei-quem-falou, meninos geniais que amam desenhos, figuras, palavras, poemas, sonhos...





sábado, 20 de fevereiro de 2010

We Are The World 25 for Haiti: um simulacro


Tinha 19 anos quando USA for Africa, We Are the World foi lançada. Uma comoção. O tema, sim, era e é por si só comovente. Mas a canção-hino deve ser reverenciada. Ali estavam reunidos 45 dos grandes nomes da música americana. Tive o meu próprio compacto. Ainda hoje, 25 anos depois, lembro de detalhes do clipe e da canção. Das entradas, dos timbres, do arranjo, dos graves, dos solos, dos duos, dos coros.
Hoje vi por inteiro a nova versão, difundida no Twitter como algo que arrancaria lágrimas. Longe disso. Muito, muito longe.
O drama do Haiti é demasiado cruel e tão comovente quanto a fome de África, que motivou a composição de Michael Jackson e Lionel Richie. É fato. É fato também que Haiti é um pedaço pequeno demais do mundo que corre. A dor coletiva pelo país já se esvaziou mundo afora. Além das iniciativas de entidades e organismos internacionais restará então a canção, quem sabe, como forma de mobilização para arrecadar fundos em prol das vítimas. Eu gostaria muitíssimo que fosse assim. Torço por isto.
Mas penso que não. Falta tudo na nova versão de We Are the World. Falta Michael, de verdade. Falta Ray Charles, Stevie Wonder, Bruce Springsteen, Al Jarreau, Bob Dylan, Cindi Lauper e muito mais gente com participação emblemática. Falta emoção e verdade. E talento. Muito talento.
O que vemos agora é um simulacro. E com uma produção previsível para as possibilidades e recursos tecnológicos contemporâneos. Richie e Quincy Jones - que também fez o primeiro arranjo - estão ainda à frente, sem muito o que fazer. Porque o que é genial, é único.
Ou então vira referência, apenas uma referência, para o novo. O final do clipe é o que salva: os rappers. Aí, finalmente, se apresenta uma nova cor, uma nova linguagem, um novo estilo. De repente, se fosse este o caminho eu o manteria na memória, assim como ao original, mesmo depois de tanto tempo.
Bom, aqui vai o novo clipe, a nova música. Confiram e discordem. Ou não.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Soweto, a Praça e o Poeta

Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus?!
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...

O trecho de um dos versos de O Navio Negreiro, de Castro Alves me comove. Na Praça mais famosa de Salvador, que leva seu nome chego no fim do domingo pra sessão de cinema. Com atraso porque é difícil estacionar em meio ao crack, desgraça urbana contemporânea.
Entro e já me deparo com Nelson Mandela, ou melhor, Mr. Morgan Freeman encarnando o então presidente sulafricano em expressões, gestos e sotaque africâner, ampliando sua equipe de segurança particular com homens brancos, começando a varrer o apartheid no próprio tapete e enfrentando seus pares por isto. 
O filme é Invictus, de Clint Eastwood e só isso já me faria sair de casa no final de domingo. Clint é, de longe, o maior cineasta da década. Mr. Freeman e o roteiro, inspirado em uma história real, só aumentam minha motivação.
Ao meu lado, um amigo que trabalhou em África e que ouviu aquela história contada bem de perto. Conheceu bem a Cidade do Cabo e Joanesburgo, andou por ruas que víamos a todo instante na tela, esteve em Robben Island Prision, na cela onde Mandela foi trancafiado por 27 anos, da largura dos braços abertos.
Foto: divulgação. veja.abril.com.br

Deste modo, abrindo os braços o capitão do time nacional de rugby da África do Sul, Francois Piennar (Matt Damon) mediu o lugar e meu amigo o fez da mesma forma quando lá esteve. É inevitável quando se depara com o cubículo onde mal cabia o colchão fino.
Ali Mandela suportou o frio que vinha através das grades sem proteção. A meresia lhe causou um problema na retina, seus olhos ficaram extremamente sensíveis à luz. 
E, ainda assim sobreviveu para levar à frente seus ideais e perdoar seus algozes. Por isso o que mais se ouve no filme é: "se o presidente aguenta, nós também podemos aguentar".
Cochichando, eu ia complementando as informações históricas de Invictus e confirmando a versão fidedígna da direção sensível e segura de Clint apoiada pelo talento do elenco.
A luta anti-apartheid obstinada de Nelson Mandela e seu desempenho na presidência da África do Sul não são mitificados quanto pareçam merecer. Houve controvérsias e estas são mostradas em Invictus naturalmente. Mas o recorte da história exposto no filme é suficientemente cru e, por isso, memorável.

Nelson Mandela e Francois Pienaar. Foto: Google Imagens

Todo ele preserva o contexto humanístico: o drama racial, a segregação, o abismo cultural e a miséria que advém do massacre aos negros, mesmo em maioria no país. Mandela é um líder humano, lúcido, sagaz e generoso demais para fomentar vingança. Prevalecem os seus princípios de igualdade e união em favor do país que ele vislumbra livre do apartheid.
Obviamente, tudo na linguagem cinematográfica ao melhor estilo Eastwood: vigor cenográfico e sutileza em contraponto, a história bem contada, clara e sem arestas ou dubiedade, elenco impecável e trilha sonora paralisante.
Damon e Mr. Freeman concorrem ao Oscar 2010 que, absurdamente, deixa Clint e Invictus fora das disputas principais, de direção e filme.
As ruas e favelas de Soweto, paupérrimas e vazias, com seus moradores agrupados e atentos a um evento que simboliza o esforço de Mandela e de Pienaar me remeteram ao espaço externo da sala do cinema.
Lá fora homens, mulheres, jovens e velhos viciados, os "crackeiros", em grande maioria afro-descendentes da cidade com maior população negra fora de África perambulavam em volta da estátua de Castro Alves, se jogando e andando a esmo na rua.  Desafiando motoristas para arrancar um troco dos transeuntes apreensivos diante de um atropelo iminente. Triste ironia.
Daqui a uma semana será Carnaval em Salvador e os "crackeiros" serão varridos para baixo do asfalto ou se congraçarão no vai-e-vem da dança na Praça Castro Alves, que estará repleta de turistas e soteropolitanos saltitantes.
E todos em uníssono endossarão o coro oficial da "festa mais democrática do planeta", onde até os "branquinhos são neguinhos". Tudo aos pés do poeta sensível à penúria escrava dos navios.
Não é preciso dizer que a desgraça do crack não é exclusiva de pobres e pretos. Já faz a cabeça e engorda as estatísticas de óbitos de jovens da classe média há algum tempo. Mas esta é outra história.
Por ora, o que se vê na praça é a praga do alento dos miseráveis. Dos que não escolhem, são escolhidos.
Mandela mostrou neste pequeno trecho da sua trajetória e do seu país que não se muda um cenário adverso sem liderança. E usou o esporte para levantar e unir em torno de um foco - um time nacional de rugby - uma multidão segregada, apartada. E fez valer a sua luta histórica. 
No caso de Salvador, na Soweto que se esconde atrás do Trio Elétrico, a política do Império Romano para com a multidão é levada ao pé da letra: panis et circenses. Quando o circo é o próprio pão. E, no outro lado desta arena, sequer há líderes a serem reverenciados. São todos atores do mesmo circo.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Som e poesia, mas sem fantasia


Imagem: autoria não identificada Fonte: Google Imagens

Não sei exatamente há quanto tempo não abria o Germina Literatura. Por isso só hoje vi que há uma janela com som. Uma foto de um rádio antigo, com uma música com cara de poema. Abri aleatoriamente o site e me dei conta do quanto a palavra - e a melodia serenada - alimentam a alma.
Tem um tempo em que a gente tem que seguir, ou descobrir, coisas que nos digam algo, verdadeiramente.
Falo isto porque decidi, depois de um encontro que deu errado, não assistir Avatar. Não gosto de filmes de ficção, com efeitos computadorizados em excesso.
Parece paradoxal, já que os temas cibernéticos me atraem. Mas a simplicidade das palavras que posso ouvir na esquina me tocam muito mais e me fazem ligar a chave do carro e ir ao cinema.
Essa coisa do Globo de Ouro, só opiniões favoráveis, tudo me balançou. Mas hoje ouvi na real o que o filme tem de bom: roteiro e efeitos especiais. Ótimo. Por isso não vou. É pouco. Falta o poema realista. Casual, como este com que me deparei hoje no Germina. Ou como o texto do blog de Paradise Duluoz. Poético, sensível e inspirado numa história real.
Estou em um tempo de olhar mais perto. Não quero a lua de James Cameron. Quero colocar minha sobrinha no colo no dia do seu aniversário. Acalentá-la e confortá-la por ter presenciado a morte de uma jovem em um ponto de ônibus na esquina de casa, a quem tentou salvar desesperadamente depois que uma motorista de ré e sem freio imprensou a moça na parede.
Falo grego? Acho que não. Falo sem fantasia.