domingo, 27 de dezembro de 2009

Uma história de encontro




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Nathaniel Ayers e Steve Lopez

Para mim o cinema é a extensão perfeita da literatura. Não falo de versões e adaptações. Falo da possibilidade de enxergar as minúcias das emoções do viver. A ressaca entre o Natal e o Ano Novo é um bom momento para ir ao cinema.
Mesmo involuntariamente é a hora em que a sensibilidade aguça, estamos mais suscetíveis às percepções e contemplações e nos permitimos a tão propagada reflexão. Palavrinha gasta, do rol dos clichês de fim de ano. Mas ainda necessária para justificar a vontade de mudar. E, se possível, provocar mudanças.
Fui ver O Solista (The Soloist, 2009), de Joe Wright, com estupendas interpretações de Jamie Foxx e Robert Downey Jr.
O filme conta a história real de Nathaniel Ayers, músico virtuoso que abandonou família e a arte para morar nas ruas. Era esquizofrênico, ouvia vozes, tinha alucinações e, por consequência, surtos.
No seu caminho cruza Steve Lopez, colunista do Los Angeles Times, um homem maduro e com uma vida solitária e sem sentido.
Há um encontro. Desses que, imagino, só acontecem uma vez em nossas vidas. Ou talvez aconteça sempre e nem nos damos conta. Lopez e Ayers constroem, a partir deste encontro, uma história de amizade que muda radicalmente a vida dos dois.
Ayers, sensível, percebe claramente o que Lopez passa a significar para ele enquanto o outro resiste, hesita, recua, antes de entender que é impossível passar incólume à presença de Ayers a partir daquele ponto. O que aconteceu entre Nathaniel Ayers e Steve Lopez pode não ter sido mera casualidade. Quem sabe já estava escrito.
Mas o que importa mesmo é a capacidade de olhar. Perceber o entorno do mundo que criamos para nos defender ou para nos afundar na invidualidade que o cotidiano nos impõe. Olhar a rua, ouvir os sons, sentir os cheiros e os gostos. Do que nunca vimos ou provamos. Do que difere daquilo que julgamos entender.
Lopez não é inocente. Há uma apropriação sim, que o fez um jornalista reconhecido e premiado por contar a história de Ayers. Mas há um dilema emocional ao qual ele se rende. E isso é o melhor da história.
Compreender que podemos transformar a nossa vida e a do outro é o melhor de um encontro.

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