domingo, 8 de novembro de 2009

Hordas de hipócritas


Foto: patodelaranja.com

Preconceito é uma coisa que me deixa gelada. É algo, pra mim, absolutamente injustificável.
Ontem estava na fila da depilação - sim, até pra isso tem fila - quando reparei num par de pernas sobre saltos plataforma ao meu lado. Pés enormes. Mais acima, uma saia curtíssima com estampa de onça cobrindo aqueles coxões de fazer inveja. Fui subindo os olhos quase instintivamente, e...
...peitos siliconados. Cabelos loiríssimos, longos e falsos. Dois celulares tocando ao mesmo tempo e a pessoa nem ali. Continuava, delicadamente, folheando a Caras da semana. Quando levantou atendendo ao chamado da moça da cera quente vi o par de lentes azuis e medi as costas. Uma asa que não tinha mais tamanho. Braços bombados.
Era um homem. Linda, loira, vestida de onça e no salto. Tudo certo. Adoro ver a reação dos outros nestas horas. Nenhum desconforto na recepção, nem um risinho de canto de boca, nenhum olhão aberto. Achei sensacional. Civilidade da zorra. E olha que tinha de menina a senhorinha.
Aí vejo a história da expulsão da aluna da Uniban, com uma justificativa patética. A moça loira e gostosa foi defenestrada por ter maculado "a moral" da instituição por causa de um minivestido rosa-choque. Choquei eu. Meo Deos.
 O quão imoral foi a reação de uma horda de jovens movida pelo preconceito e pelo prazer de se meter na vida dos outros, como se o livre arbítrio fosse uma ofensa pública.
Não estou aqui defendendo que cada um faça o que quer em qualquer lugar, sem pensar no mínimo convencional. Sim, universidade é um lugar de convenções como qualquer outro. Mas não é um lugar de manifestações violentas, segregadoras embaladas pela hipocrisia pseudo-burguesa.
Quase mataram a moça, a desqualificaram, a subestimaram, a agrediram com toda sorte de impropérios e a universidade (sic) assinou embaixo. Um descalabro.
O que mais me espanta é que este tipo de discurso já extrapola a ordem das "diferenças" e recai, também, sobre os "iguais". Aquele bando de gente xingando histericamente pelos corredores, num coro endossado por professores me lembrou as manifestações racistas dos Estados Unidos dos anos 50's e 60's. Coisa da Ku Klux Klan.
Mais um pouco e a teriam jogada na fogueira e a queimado viva. A que ponto chegamos.
E pra Uniban, não vai nada? Aposto que não. Num país laico, democrático e com um governo de esquerda (sic de novo), a sociedade segue a fábula dos três macaquinhos: não vê, não ouve e não fala.
Enquanto isso, no Reino da Dinamarca ou Ilha da Fantasia trieletrizante, gays continuam sendo assasinados em quartos de motéis do Largo Dois de Julho, a data da Independência. Vive la differénce.

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