domingo, 8 de novembro de 2009

Che ainda foi maior


O homem, também guerrilheiro

Cinema na noite de sábado. Che 2, de Steven Soderbergh. Direção arrastada para quem não conhece a história. Roteiro fiel, Benício del Toro é a encarnação de Che Guevara. É uma coisa transcendental aquela interpretação. O mito toma conta da alma do ator. Toma conta de tudo.
Comentei com uma amiga que del Toro vai levar uns 10 anos pra se livrar de Che. E tenho dúvida se ele vai conseguir. Mas o filme, por si só, não emociona.
Talvez porque a minha geração tenha o imaginário de Che Guevara impregnado em seu sonho pueril. Indubitavelmente, em alguns princípios revolucionários que ainda carrega. Mas gostei do tom documental. Por duas horas o lugar do espectador é dentro da mata boliviana.
O olhar é de dentro pra fora e, por isso o ritmo, lento, no tempo de cada acontecimento. Sem a corrida frenética dos filmes de guerra ou de ação. Tudo no passo tático de uma operação de guerrilha movida pela ideologia de um homem quase só. É uma referência histórica importantíssima. Este deve ser o olhar sobre o filme.
Embora goste muito de Soderbergh - Traffic (2000) e Sexo, Mentiras e Videotape (1989) estão na lista dos 20 melhores filmes da minha vida -, penso que um diretor sulamericano, sobretudo os argentinos fariam um filme bem melhor, cinematograficamente falando.
Nossos olhos e nossos ouvidos já estão treinados para imagens cruas, perspectivas diretas da câmera, lentes sem filtro e cortes menos secos e mais emocionais, embalados por uma sonoplastia tensa e uma trilha sonora que vai num movimento crescente. Somos latinos. Só o canto-lamento de Mercedes Sosa, Balderrama, na subida do corpo de Che e dos caracteres não basta.
A direção de Soderbergh abre mão dessa visceralidade que a história de um mito revolucionário em seus últimos momentos merecia. Talvez este tenha sido o meu incômodo, que não desdenha em nada o filme, conceitualmente.
Eu, que colecionei livros, bottons e camisetas de Che na juventude e chorei em Diários de Motocicleta (Walter Salles, 2004) saí do cinema como entrei, a não ser pela sensação de que houvera visto Che em del Toro. Estupendo.


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