sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Na contramão


Vi ontem uma matéria na TV sobre o uso da bicicleta como meio de transporte no Japão. No sol, na chuva, no frio, com ou sem filhos na carona, as mulheres de minissaia e salto alto, os homens de terno a caminho do trabalho.
Os japoneses vão a todos os lugares de bicicleta, mesmo não existindo ciclovias. As ruas são muito estreitas. Mas os bicicletários nas estações de metrô e pontos estratégicos de Tóquio facilitam.
A tendência da substituição do automóvel pela bike vem de alguns anos como uma das alternativas para a preservação do meio ambiente e, claro, pra dar uma força à saúde da população urbana.
O Brasil está no atraso. As cidades brasileiras, com heróicas exceções, não têm infraestrutura alguma para fomentar o uso das bicicletas pelos seus moradores. E estes, enfiados em seus carros por horas nos engarrafamentos reclamam, mas não movem uma palha. Ou melhor, uma roda da magrela.
Em Soterópolis - Salvador, Bahia, para quem ainda não sabe - a coisa é ainda mais crítica.
Combine-se um transporte coletivo de péssima qualidade, um metrô em construção empacado há 10 anos, uma topografia que não ajuda, um crescimento em cinco vezes da frota de automóveis nos últimos 20 anos e nenhum investimento em ciclovias, pavimentação e manutenção das ruas e temos um cenário sofrível.


Orla marítima de Salvador. Foto: Welton Araújo, Agência A Tarde

Márcio Fortes, o ministro das Cidades promete a liberação de recursos para a construção de ciclovias e bicicletários em todo o país, mas diz que cada cidade "tem uma situação de necessidade". Pronto: era essa a deixa que a administração soteropolitana queria. Não vai pedir essa verba nunca.
A não ser que alguma estrela de axé resolva dar um passeio de bicicleta pela cidade, caia num buraco ou seja atropelada e deixe de puxar o trio elétrico no Carnaval. Aí é outra coisa. As providências para melhoria das condições de vida da população andam de braços dados com a indústria do entretenimento e as espetacularizações pseudo-culturais.
Ok, ninguém quer bicicleta, por razões diversas? Cabe rodízio com carona solidária. Afinal, o baiano tem fama de agregador. E o é, verdadeiramente.
Então, que tal os poderes públicos adotarem por aqui uma medida semelhante à anunciada pela Holanda, que vai cobrar uma taxa por quilômetro percorrido pelos automóveis? Tudo controlado por GPS.
A proposta pretende reduzir em 10% as emissões de dióxido de carbono até 2012. E haverá contrapartida: o imposto sobre a compra dos veículos, que custa aos holandeses 25% do valor do bem, será abolido.
E, ainda: a taxa cobrada terá variação de acordo com o índice de emissão de carbono dos automóveis. Os donos dos carros menos poluentes terão mais descontos.


Cena típica em Amsterdam, Holanda. Foto: Daniel Duclos- www.ducsamsterdam.net

Iniciativa fantástica, considerando a eficiência do sistema de trânsito daquele país, que tem a bicicleta como um meio de transporte como qualquer outro, com regras de circulação e segurança. Em Amsterdam, 12 bicicletas ocupam o lugar de um automóvel, o que reduz sensivelmente os entraves do tráfego e os índices de poluição.
By the way, na Ilha da Fantasia trieletrizante mais de 2 milhões de veículos estão em circulação. Na capital são quase 700 mil: um carro para cada quatro habitantes. Respire um ar desses. Depois vá pular na pipoca do Chiclete com Banana pra aliviar os pulmões.


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